Carlos Moreira – 69 anos

Penha Garcia

“Saí de Fajão com um ano de idade. Nunca cá tinha morado tanto tempo como agora este ano e meio. Ainda preciso da cidade. Há coisas que me fazem falta que aqui não tenho. Faz-me falta a música, fazem-me falta os livros, fazem-me falta os amigos. O que me atrai em Fajão? Por um lado, a calma e o tipo de vida que aqui tenho. O facto de ter regressado às memórias que tinha e àquilo que eram as raízes: poder trabalhar a terra, cultivar coisas num pequeno terreno, o prazer de ver as coisas a nascerem, o facto de ser um comunidade pequena em que toda a gente se fala. Trabalhei como negociador de uma central de compras e, ultimamente, numa empresa de design gráfico, fazia os textos. Gostei muito da minha vida. E gosto. Mesmo ter vivido em ditadura ajudou-me a crescer e a formar-me. Não é propriamente uma coisa que deseje a ninguém, mas, ter podido participar na luta contra a ditadura, e ter vivido aquele período de utopia de toda a gente, é uma coisa que não se troca. No futuro, gostava de uma sociedade mais inclusiva, mais generosa, em que as pessoas não pensassem tanto nelas próprias e pensassem mais nos outros. E isso está cada vez mais difícil. Os desejos, na juventude, de uma sociedade utópica, igualitária, sem classes… Neste momento, só quero uma sociedade mais solidária. Já me chegava”