Rostografia

Rostografia é um projeto de retratos que torna rostos como nomes visuais para as viagens e as memórias, a soma dos que reconhecemos no itinerário da nossa vida e história, e a prova que coexistimos em comunidade.

Os retratos serão feitos e apresentados durante toda a duração do evento, nas várias plataformas do Mapas Natureza.

Bruna Brás – 16 anos

Maçãs de Dona Maria

“Tenho saudades dos bailaricos. Agora com a Covid já não há. Estou a estudar ciências, quero ir para enfermagem. O meu emprego de sonho seria ser médica, mas já que não dá, por causa da média, tenho de ser enfermeira. Ajudo no restaurante da minha irmã porque quero ter algum dinheiro para comprar coisas que quero. Gostava de viver no Dubai. E ser milionária. Ajudava pessoas necessitadas. E depois descansava o máximo, com certeza”

Abílio Sousa – 66 anos

Maçãs de Dona Maria

“Estive quase 40 anos nos bombeiros, como funcionário e voluntário. Tenho um filho aqui, também funcionário dos bombeiros e voluntário, e tenho outro na Batalha. Já fiz tanta coisa para ganhar algum… Andei com um tractor a carregar lenha, andei numa salsicharia, tudo e mais alguma coisa para ganhar uns tostões. Estudei numa escola industrial, mas depois a vida não ajudou, o 25 de Abril, eu estava em Angola e tive de vir para cá e de me agarrar aí. Andei a fazer poços, fui canalizador, fui isto, fui aquilo. Já não vou a Angola desde 1975. Mas gostava de lá ir. Ver a minha terra, Barra do Dande. O meu falecido irmão morreu lá, atingido em casa. Tenho saudades da terra onde nasci. Tem uma praia com mais de 30 quilómetros de comprimento. E um rio. A gente apanhava tudo, comia tudo. Ostras, amêijoas, ovos de tartaruga, fora aquilo que a gente caçava. Tenho dois filhos, três netos, gostava que eles tivessem uma vida melhor do que a minha. Mais fácil”

Vítor Peixoto – 58 anos

Maçãs de Dona Maria

“Nasci no Sameiro, concelho de Braga. O meu pai era militar em Tancos. A gente morou em Vila Nova da Barquinha e fiz lá a minha vida. Casei lá, enviuvei lá e depois conheci uma senhora daqui de Maçãs de Dona Maria. E vim para cá. Trabalho como pintor da construção civil. Estive 28 meses na Força Aérea, como voluntário. Andei 18 anos como camionista no longo curso. Fazia Portugal, Espanha, França e Itália. Presentemente, o que gostava? Ser piloto de rali. Já fiz algumas brincadeiras quando era mais novo, tanto de mota como de carro. Para viver tem de ser no campo, estar descansado e sossegado. Natureza. Não quero cidades. Tenho saudades de muita coisa. Se calhar, de poder estar com a minha mulher que faleceu. Dos filhos. Tenho quatro cachopas e um rapaz, está tudo casado e lá para cima para o Norte. Gostava de ir ao Taiti. Já corri o Norte de África, que é lindo, lindo, lindo, andei lá seis meses, a trabalhar, ia lá descarregar o camião. E gostava de visitar Veneza”

Isabel Mendes – 62 anos

Maçãs de Dona Maria

“Se pudesse, gostava de estudar, de ir à procura de maiores horizontes de conhecimento, desafiar-me, tudo o que eu permitisse entender. Em viúva fui estudar à noite e então descobri outra vez a escola e fiquei muito, muito entusiasmada. Mas tive de desistir porque não coincidiam os horários. Sempre vivi em Maçãs de Dona Maria. Fui comerciante ligada ao sector de bebidas, tinha um café com garrafeira. Tenho saudade do tempo que vivi com o meu marido, já sou viúva há 25 anos. Não tive filhos. Diria a mim própria que use sempre a verdade e a alegria, e coragem para a vida. Gostava de ir conhecer outros lugares, conhecer o mundo. Ganhando a lotaria, faria a compra de uma autocaravana e viajava”

David Fallow – 65 anos

Maçãs de Dona Maria

“Vim para Maçãs de Dona Maria há 14 anos. Queria um sítio agradável para me reformar, com boas pessoas e qualidade de vida. Vendemos a nossa casa no Reino Unido e decidimos comprar uma autocaravana e viajar pela Europa. Fomos a França, foi bom, mas as pessoas… Então, viajámos para Espanha e depois para Portugal. Em Maçãs de Dona Maria, um senhor de idade, com uns 85 anos, mandou-nos parar e ofereceu-nos duas laranjas. E isso fez a decisão. Comprámos uma quinta e renovámos o celeiro e construímos uma casa. Ajudo nos festivais e em reuniões de lares de idosos. Eu era oficial da Royal Air Force, engenheiro, durante 27 anos. E agora planto batatas. Gosto de carpintaria, faço jardinagem. Não consigo pensar em nenhum outro lugar onde quisesse viver. Sou muito, muito feliz aqui. As pessoas são fantásticas. Os meus filhos e netos vêm visitar-me e além deles não sinto falta de nada. Tudo o que preciso está aqui. Tenho dois netos em Atenas. Costumavam viver em Nova Iorque, mas agora vivem em Atenas. Gostamos de viajar. As coisas mais memoráveis para nós são viajar por Portugal e conhecer as pessoas. Isto é o que a vida é: ir aos restaurantes mais antigos e experimentar a comida. Sou feliz aqui. Não preciso de férias enquanto viver aqui”

Vanessa Silveiro – 29 anos

Maçãs de Dona Maria

“O meu sonho de pequenina era ser médica pediatra. Tenho um filho com 16 meses, um menino. Vivo nos Palheiros e sou auxiliar administrativa na junta de freguesia. Se pudesse viver noutro lugar, escolhia a Madeira. Fui lá de férias e adorei a ilha, a vivência. A viagem mais especial que fiz foi a Cabo Verde, ilha do Sal. Gostei muito da maneira de viver das pessoas. Acho que não têm as preocupações que nós temos e são muito mais felizes do que nós. E vivem com muito pouco. Do que tenho saudades? Da minha adolescência. De termos um grupo de amigos, todos juntos. As pessoas crescem, casam-se, têm filhos, cada um vai para seu lado, até podemos viver perto mas a rotina diária faz com que não estejamos juntos”

Américo Dias – 58 anos

Maçãs de Dona Maria

“Tenho saudades de um irmão meu que morreu. Sou nascido e criado em Maçãs de Dona Maria. Trabalho no campo, faço um pouco de tudo. Tenho uma filha de 13 anos, mas não sou casado, sou solteiro. Também faço um bocado de pintura. Volta e meia vou lá abaixo ao Ribatejo fazer um mês, dois, e depois regresso a Maçãs de Dona Maria. Gostava de viver no Ribatejo. Estamos mais perto das praias, temos mais qualidade de vida. As viagens que faço é daqui para o Ribatejo e do Ribatejo para aqui. Vou lá agora ajudar a fazer a pintura de um condomínio. E levo a minha filhota, ela vai para a praia e eu vou trabalhar. Depois tenho os fins-de-semana. Vamos para a Foz do Arelho, vamos às Caldas, vamos para a Vieira, vamos para Setúbal, a gente corre aquilo tudo”

Celina Mendes – 23 anos

Maçãs de Dona Maria

“Sou do Canadá, nasci em Vancouver, mas estou a viver aqui há 10 anos. Em Maçãs de Dona Maria, conseguimos ter um estilo de vida diferente, mais biológico. Tenho saudades, se calhar, dos tempos de criança, valorizávamos tudo muito mais. Se enviasse uma mensagem do futuro para mim própria, dizia para nunca esquecer a Natureza e de onde viemos, não esquecer as nossas bases. Se pudesse escolher qualquer lugar, se calhar ia viver para uma ilha, porque gosto muito de liberdade e de sossego. As pessoas são importantes e ajudam-nos a crescer e a criar identidade. Estou a estudar para ser enfermeira. Se escolhesse outra profissão seria GNR. A minha prioridade é ajudar o próximo. Gostaria de ir a um país em guerra, não só para executar o que realmente estou a estudar em enfermagem, os cuidados ao próximo, mas, também, para ficar a conhecer mais da realidade do nosso mundo”

Mafalda Rosa – 44 anos

Maçãs de Dona Maria

“Gostava de viver numa cidade, talvez Lisboa. Sempre vivi em Maçãs de Dona Maria. Uma viagem, o Dubai. Já fiz várias: Estados Unidos, aqui em Portugal fui à Madeira, aos Açores, todas são boas. As melhores memórias são dos Açores, gostei de tudo, tudo, tudo. Adoro, já lá fui duas vezes. Tenho saudades do tempo de infância. Não tínhamos as responsabilidades que temos hoje, andávamos por aí, com mais liberdade. Sobretudo, liberdade. Tenho dois filhos, um rapaz de 19 anos e uma rapariga de 12. Trabalho como assistente técnica na junta de freguesia. Se pudesse escolher outra profissão, seria advogada, para defender os inocentes. Um conselho para mim própria? Sê feliz e sempre a olhar para a frente”

Anabela Horta – 41 anos

Maçãs de Dona Maria

“Tenho duas filhas e um filho. Sou de cá, mas estive 20 anos fora, em Lisboa. E há sete anos resolvi voltar porque acho que é mais saudável criar aqui os meus filhos do que em Lisboa, que é um ambiente muito mais complicado para as crianças, a todos os níveis. Eles aqui podem brincar na rua, podem andar de bicicleta sozinhos. Trabalho num lar em Maçãs de Dona Maria, sou ajudante de acção directa ao idoso. Se pudesse, gostava de viver nas Canárias, numa ilha isolada. Mas estou bem aqui. Não sou muito de viajar. O mais longe que fui foi ao Luxemburgo. Gostava de ir ao Brasil, por causa das praias. E gostava de ser educadora de infância. Adoro trabalhar com crianças. Tenho saudades de muitas coisas. Da senhora que me criou, por exemplo, ficou muito por dizer. Tenho saudades dos meus pais, claro. Um conselho para mim própria? Mais atenção nas decisões que tomamos”